As paredes já não eram mais brancas
Havia cheiro de mofo no ar
Ela tentou recuperar o velho encanto
Deixando a luz do sol entrar
Nos cantos da casa, escuros e imóveis
Asinhas de insetos brilhavam nas teias
Nos cantos da memória, violentos e insones
Antigos sussurros espalhados como grãos de areia
Em forma de icosaedro, um pingente prateado
Jazia sobre a velha cama de madeira nobre
Junto ao surrado manto negro e às pétalas secas
E uma garrafa com tampa de cobre
Enquanto observava suas coisas
Ela recitou os antigos sonetos
Tentando lembrar-se de como era
Ser fruto dos deuses e seus incestos
Quando a noite caisse, a lua a chamaria
As barreiras se romperiam e as sombras se moveriam
O vento sopraria nostálgico e misterioso
E Numa língua desconhecida por ela gemeria
Não se renderia a decepções e amores perdidos
Senhora da noite, irmã dos céus, da chuva e do vento
Sua vida era amálgama de dores e suspiros
Pois guardava no ventre a eternidade de cada momento